A propósito do filme sobre o inglês que decifrou o código criptográfico nazista
Saímos da sala de exibição do filme um
tanto amargurados. Não é para menos. Vermos que, em 1954, foi levado ao
suicídio um autêntico herói nacional que, pela obra a que se dedicou, de
corpo e alma, fez com que a Segunda Grande Guerra acabasse dois anos
mais cedo do que se esperaria. Poupando, desse modo, inúmeras vidas
humanas…
fonte: tribunadonorte.com.br
E porquê? Como muitos de vocês
saberão, o homem foi condenado pelo Tribunal por ser… homossexual. Isto
na civilizada Inglaterra dos anos 50 do século passado. País em que a
homossexualidade só deixou de ser crime em 1967, o que explica uma vasta
lista de condenações judiciais de ingleses com essa tendência sexual.
No país que, nos anos 60, assistiu à libertação sexual associada à
descoberta da pílula, ao aparecimento da mini-saia, à criativa explosão
de bandas da música rock…
Estamos, portanto, a falar do matemático Alan Turing, retratado no filme "O Jogo da Imitação", que está em exibição "num cinema perto de si".
O referido suicídio de Turing veio na sequência de uma depressão, como
resultado da sanção, decretada pelo Tribunal, a que se submeteu:
tratamento com hormonas femininas e castração química. A alternativa a
este tratamento compulsivo seria cumprir uma pena de prisão. Mas o nosso
cientista, que teve o azar de ser homossexual, preferiu essa sanção
química, pois o encerramento na prisão separá-lo-ia da máquina (que
tinha em casa), que antes concebera e que servira para decifrar o Enigma
- dispositivo nazi criptográfico, absolutamente temível para os
Aliados, por ser considerado impossível de decodificar. O seu desejo
era aperfeiçoar esse engenho antigamente. Que deu origem ao moderno
computador.
A actividade de Turing e sua equipa de
decifração do referido código nazi constituiu um segredo de Estado,
vindo a ser revelado somente 50 anos depois, por decisão das superiores
autoridades inglesas. Assim, embora se compreenda a razão dos segredos
nacionais em causa naquele tempo do após-guerra, não podemos deixar de
nos chocar com as consequências de todo esse secretismo no trágico destino
de Turing. Pelos vistos (por aquilo que sei), não houve intervenção de
responsáveis, conhecedores da sua portentosa obra antinazi, que tivesse atuado junto das devidas instâncias do Estado, inclusive do Tribunal,
para libertar o cientista daquele suplício.
Ah! Mas sempre houve um louvor e
pedido de desculpas oficial, a favor do cientista, por parte da rainha
Isabel II, em 2013. Vá lá… Alguma coisa oficial foi feita, como
desagravo! No filme, é evidenciada a personalidade complexa de Alan
Turing: certa insociabilidade e falta de empatia do cientista: Um expert
solitário e autocentrado, convencido da sua superioridade, mas que
soube evoluir para uma postura mais de acordo com o trabalho em equipa. A gênese do mecanismo decodificador concebido por Turing foi construir
uma máquina com a mesma lógica de pensamento que a do Enigma alemão. Advirá daí o título do filme: "O Jogo de Imitação".
Em todo o filme, não é muito abordada a
homossexualidade da personagem. Sequências de certo interesse, nesse
aspecto, situam-se na sua vida de estudante, em Cambridge, em relação um
colega de turma, seu único amigo e cúmplice. Usando ambos
frequentemente mensagens codificadas. Um aspecto a assinalar é a
surpresa (e decepção?) sentida pelo matemático, ao saber que esse seu
colega - e objeto da sua afeição - tinha morrido de uma doença
incurável, que nunca lhe revelara. Terá Turing interpretado essa omissão
da verdade como mais um jogo criptográfico?
Fonte: http://pt.blastingnews.com