Os avanços nas pesquisas para embrião conter o mesmo DNA dos dois pais ou duas mães do mesmo sexo
O QUE É A SINGLA CRISPR?
A sigla CRISPR vem do inglês Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, que pode ser traduzido como Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas. Esse nome descreve um padrão específico de sequências de DNA encontrado em bactérias. Essas sequências funcionam como parte de um sistema imunológico adaptativo, armazenando fragmentos do DNA de vírus invasores para que, se esses invasores atacarem novamente, a bactéria possa reconhecê-los e neutralizá-los.
A descoberta desse sistema natural revolucionou a biotecnologia, pois pesquisadores adaptaram o mecanismo para criar a ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9. Nessa aplicação, a parte CRISPR direciona a enzima Cas9 ao local específico do DNA a ser editado, permitindo cortes precisos que possibilitam a remoção, inserção ou modificação de genes em diversos organismos.
Nos últimos anos, os avanços na biotecnologia permitiram que pesquisadores criassem, em modelos animais, embriões cujas contribuições genéticas vieram de dois pais do mesmo sexo. Em experimentos com camundongos, por exemplo, cientistas conseguiram converter células-tronco masculinas (com cromossomos XY) em células com características femininas (XX). Esse processo envolve a remoção do cromossomo Y e a duplicação do X, fazendo com que a célula possa ser direcionada a se diferenciar em um óvulo. Ao fertilizar esse “óvulo” com esperma de outro macho, obtém-se um embrião que contém exclusivamente o DNA de dois pais do mesmo sexo.
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Apesar dos resultados promissores, a técnica ainda enfrenta sérios desafios. Um dos principais obstáculos é o imprinting genômico, um mecanismo que regula a expressão dos genes de forma específica conforme a origem parental. Em condições naturais, esses processos são essenciais para o desenvolvimento normal dos embriões; porém, quando se tenta produzir um embrião a partir de contribuições de mesmo sexo, ajustes precisos em dezenas de genes são necessários. Esses ajustes, realizados por meio de edição genética (como a tecnologia CRISPR), ainda resultam em taxas de sucesso muito baixas (em torno de 1% em alguns estudos) e levantam inúmeras questões éticas e de segurança. Experimentos recentes, inclusive, mostraram que os camundongos produzidos podem alcançar a idade adulta, mas frequentemente apresentam problemas de crescimento e viabilidade, o que demonstra que o método ainda precisa ser refinado para ser considerado seguro e efetivo.
Essas pesquisas, embora ainda restritas ao ambiente laboratorial e a modelos animais, abrem a possibilidade de, futuramente, couples homoafetivos terem a chance de gerar descendentes geneticamente biológicos a partir dos dois parceiros. No entanto, a transição para aplicações humanas exigirá um debate ético profundo, além de uma compreensão completa dos riscos biológicos e das repercussões que essas manipulações genéticas podem acarretar. Enquanto os avanços são revolucionários e inspiradores, é fundamental que a comunidade científica e a sociedade ponderem cuidadosamente os benefícios e os limites éticos dessa área de pesquisa.
Explorar como essas técnicas podem ser aplicadas para a preservação de espécies ameaçadas ou para resolver desequilíbrios reprodutivos em diversas realidades biológicas também pode ser um caminho empolgante para futuras investigações. Essa convergência entre biotecnologia, genética e ética promete redefinir as fronteiras da reprodução assistida e da diversidade biológica. Você imagina um cenário futuro onde a reprodução assistida assim permita a constituição de famílias com a contribuição biológica de ambos os parceiros?
A tecnologia CRISPR-Cas9 é uma ferramenta revolucionária de edição genética que permite modificar o DNA de organismos vivos com precisão. Ela funciona como uma espécie de "tesoura molecular", capaz de cortar segmentos específicos do DNA para remover, substituir ou modificar genes.