Filme gay proibido em mais de 50 países vai concorrer ao Oscar
Talvez o principal artista a representar a homossexualidade masculina no século 20, Tom of Finland inventou um traço que traduz com perfeição o desejo sexual de um homem por outro. E, agora, sua vida virou filme e vai representar a Finlândia na corrida do Oscar.
O filme “Tom of Finland” (2017), de Dome Karukoski, quase não consegue sair do papel. Como ninguém queria pagar para produzi-lo, seus produtores acabaram abrindo um crowdfunding para conseguir o dinheiro necessário, acreditando no poder da comunidade gay mundial. O resultado é um longa incrivelmente benfeito, com uma história inspiradora e muito excitante.
O longa parte da participação de Tom, à época Touko Valio Laaksoneen, no exército finlandês durante a Segunda Guerra Mundial. A barra começa a pesar após o fim do conflito, pois era crime ser gay na Finlândia. No entanto, nada que uma praça pouco iluminada e um olhar atento – para ver quando a polícia estivesse se aproximando – não resolvesse.
Tom of Finland - (Trailer legendado em português PT)
A construção de uma rede de amizades para uns protegerem os outros, a complacência de algumas esposas, a violência física e psicológica sofrida até a descoberta do amor são elementos presentes no filme. Curioso que ele ainda teve de enfrentar uma grande insegurança até descobrir se o seu trabalho poderia ser considerado arte ou não, apesar de ser rentável.
Outro ponto de destaque sobre Tom – e que pouca gente sabe – é a sua crise com o surgimento da Aids. Ele já era um artista famoso e bem-sucedido nos EUA, mas se sentiu responsável pelas contaminações, porque seus desenhos despertavam o desejo sexual das pessoas, o que teria feito o vírus se espalhar, segundo sua cabeça.
O artista não só acaba por entender que não tem culpa, como ainda tem participação ativa nas organizações responsáveis por arrecadar dinheiro e dar suporte aos contaminados.
Por conta do tema, “Tom of Finland” já foi proibido em 50 países, o que não impediu de ser reconhecido em seu próprio espaço como a obra a representá-los no Oscar do próximo ano. É admirável o resultado conseguido pelo diretor e mais lindo descobrir que os desenhos de Tom vão além de volumes nas calças e jaquetas de couro.
FONTE: athosgls/blog/Ítalo Damasceno
O nome Tom of Finland fez, ao longo do último meio século, uma viagem inesperada: do fetichismo homossexual confidencial partilhado por uma comunidade minoritária para o reconhecimento global como artista de corpo inteiro e bandeira da comunidade LGBTQ (lésbica, gay, bissexual, transsexual e queer). Mas é sobre a figura por detrás do nome artístico, Touko Laaksonen (1920-1991), artista comercial e veterano de guerra finlandês, que se debruça este filme. Sob o pseudónimo Tom of Finland escondia-se um artista de formação clássica – no dia-a-dia, Touko Laaksonen, filho de professores que combatera contra os russos na Segunda Guerra Mundial e estudara piano, era artista gráfico e director artístico numa agência publicitária de Helsínquia. Os seus desenhos secretos reflectiam a sua "segunda vida" no meio de uma sociedade homofóbica onde a única hipótese de relação estável para um homossexual era sexo casual nas sombras de um parque público. Mesmo assim, Laaksonen viveu durante quase 30 anos em Helsínquia com o bailarino Veli Mäkinen, que morreu de cancro da garganta em 1981.
Com assinatura de Dome Karukoski ("Coração de Leão") e com Pekka Strang no papel principal, o filme concentra grande parte da acção nas décadas imediatamente anteriores à descriminalização da homossexualidade na Finlândia, nos anos 1970, usando como "motor" o conflito entre os desejos eróticos do artista e a sociedade conservadora e homofóbica em que residia.
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