MARK FELICIANO UM CAMINHO PARA ESCURIDÃO
Quando um homem sobe ao palco e, diante de mil pessoas, faz a apologia de um assassinato notório... e o faz em nome de religião... não se iludam: o mundo já acabou.
O herói de Marco Feliciano chama-se Mark Chapman. Em 9 de dezembro de 1980, Chapman esperou por John Lennon, na frente de sua casa, em Nova Iorque. Às cinco da tarde, pediu-lhe um autógrafo na capa do LP "Double Fantasy". Postou-se depois num canto da entrada do prédio onde Lennon morava, o famoso edifício Dakota. Às 22h50, quando Lennon e sua mulher Yoko Ono voltaram, Chapman matou-o com cinco disparos pelas costas, quatro dos quais o acertaram. Foram quatro, não foram três, como quer Feliciano.
Gente como Feliciano, de resto, não parece gostar muito de música, exceto a música "funcional", que serve aos propósitos específicos de sua doutrina. Isso também ajuda a entender seu desprezo por Lennon e a facilidade com a qual transpira em êxtase, na gravação, para glorificar o assassinato do ex-beatle. Para Mark Feliciano, a morte trágica de Lennon não é um efeito de nossa loucura pop, individual e coletiva. É uma prova concreta da existência de seu deus castigador e justiceiro. Um deus Thor, furioso cuspidor de raios.
Para Feliciano, Chapman foi um instrumento da justiça divina na Terra. Um anjo, portanto. Mas John Lennon, com a verve que marcou sua carreira, "comentou" o episódio antes mesmo que acontecesse. E deu uma resposta antecipada ao grotesco teatral que esse video nos trouxe. Perguntado por um jornalista sobre como esperava morrer, ainda nos anos 60, Lennon respondeu jocosamente: "Serei provavelmente pipocado por um lunático" ["I'll probably be popped off by some loony"]. Só não previu que um "pastor de almas" faria o elogio catártico do homicídio, 30 anos depois, no palanque de uma igreja suburbana latino-americana.
Caetano Veloso deveria fazer uma canção sobre isso.
fonte: yahoo noticias/Por José Guilherme | Ultrapop